Se você trabalha com bordado à mão ou está começando nesse universo cheio de detalhes e carinho em cada ponto, uma dúvida quase sempre aparece: como calcular o preço do seu bordado manual sem errar na conta e sem desvalorizar seu trabalho?
Não é só pegar o valor do material e multiplicar por dois. Também não dá pra cobrar só o tempo gasto, como se fosse uma linha de produção. O bordado feito à mão carrega arte, técnica, paciência e, principalmente, valor afetivo. Quem faz, sabe o quanto é cansativo e exige foco. E quem compra, precisa entender que está pagando por exclusividade, não por algo industrializado.
Neste artigo vamos explicar de forma simples, direta e realista como calcular o preço de um bordado à mão, incluindo todos os elementos que precisam ser considerados: materiais, tempo de produção, complexidade, margem de lucro, valor criativo e até o desgaste físico. Vem entender tudo e aprender a cobrar com confiança.
Por que o bordado à mão precisa ser valorizado?
O bordado artesanal é um dos trabalhos manuais mais antigos da humanidade. E mesmo com a tecnologia e máquinas bordadeiras de alta velocidade, o bordado feito à mão segue vivo, atual e com valor único.
Quem faz bordado sabe:
- Cada ponto exige atenção
- Um erro pode fazer perder horas
- É um trabalho que desgasta vista, mãos e coluna
- Muitas vezes a criação é personalizada
- O cliente quer exclusividade e delicadeza
E ainda assim, muita gente ainda acha “caro” pagar um valor justo por uma peça bordada. Por isso é tão importante aprender como calcular o preço certo, levando em conta o esforço real e não só os gastos materiais.
Etapas para calcular o preço de um bordado à mão
Para precificar de forma correta, você precisa entender o que está sendo cobrado. Não adianta inventar um valor baseado na intuição ou no que a colega cobra. Cada bordadeira tem seu estilo, custo e ritmo.
Abaixo, veja os principais fatores que você precisa considerar:
1. Materiais usados
Tudo começa com a soma dos materiais utilizados para produzir a peça. Isso inclui:
- Linhas de bordado (meça ou estime o consumo médio)
- Tecido base (etamine, algodão, linho, etc.)
- Bastidor (se for incluso)
- Agulhas (se tiver desgaste ou reposição frequente)
- Enfeites adicionais (miçangas, fitas, aplicações)
- Etiqueta personalizada
- Embalagem final (papel, laço, tag, etc.)
Você deve anotar o custo de cada item. Se você já comprou o material em grande quantidade, divida o preço total pela quantidade de peças que consegue produzir.
Exemplo simples:
- Tecido: R$ 8,00
- Linhas: R$ 5,00
- Etiqueta: R$ 0,50
- Embalagem: R$ 2,00
Custo total de materiais: R$ 15,50
2. Tempo de produção
Aqui está um dos pontos mais importantes: quanto tempo você levou pra bordar?
Você pode anotar o tempo real ou estimar baseado no padrão que costuma seguir. O ideal é calcular por hora. Mas e quanto vale sua hora?
Considere:
- Seu nível de habilidade
- Desgaste físico
- Custo de vida
- Sua experiência
Você pode começar cobrando de R$ 20 a R$ 40 por hora, dependendo do estilo e da complexidade. Se for uma peça artística, personalizada ou demorada, o valor pode e deve ser maior.
Exemplo:
- Tempo de produção: 4 horas
- Valor da hora: R$ 30
Custo pelo tempo: R$ 120
3. Complexidade do bordado
Nem todo bordado é igual. Um ponto cheio, colorido, com muitos detalhes, exige muito mais do que um ponto simples monocromático.
Considere:
- Quantidade de pontos diferentes
- Nível de precisão
- Quantidade de cores
- Se tem relevo, preenchimento ou textura
- Se o bordado é por encomenda exclusiva
Para bordados muito complexos, adicione de 10% a 30% a mais no valor final.
Exemplo:
- Valor base: R$ 135,50 (materiais + tempo)
- Complexidade: +15% = R$ 20,32
Total com complexidade: R$ 155,82
4. Margem de lucro
É aqui que muita gente erra. Lucro não é ganho. Lucro é necessário.
Você precisa ter margem pra reinvestir no seu trabalho, comprar novos materiais, arcar com imprevistos e crescer com segurança.
Uma margem de lucro saudável gira em torno de 30% a 50%, dependendo do seu público e posicionamento.
Vamos aplicar:
- Valor sem lucro: R$ 155,82
- Margem de 40%: R$ 62,32
Preço final: R$ 218,14
Você pode arredondar para facilitar: R$ 220
5. Valor agregado e diferencial
Se você:
- Cria desenhos exclusivos
- Personaliza nomes ou frases
- Tem embalagem especial
- Oferece atendimento personalizado
- Envia mimo junto com o bordado
Tudo isso aumenta o valor percebido da sua peça. E isso deve refletir no preço. Não tenha medo de cobrar mais pelo que é único.
Como montar sua planilha de cálculo de preço de bordado?
Você pode fazer isso no papel ou no Excel. Mas o ideal é ter uma planilha padrão, onde você só vai mudar os valores conforme o projeto.
Campos que a planilha pode ter:
Descrição | Valor (R$) |
Custo dos materiais | R$ 15,50 |
Tempo (4h x R$ 30) | R$ 120,00 |
Complexidade (15%) | R$ 20,32 |
Subtotal | R$ 155,82 |
Margem de lucro (40%) | R$ 62,32 |
Preço final | R$ 218,14 |
Erros comuns na hora de precificar bordado à mão
Se você já passou por algum desses, fique tranquila. O importante é ajustar agora:
- Cobrar só o material e ignorar o tempo
- Cobrar pouco por medo de perder cliente
- Fazer comparação com produto industrial
- Não atualizar os preços quando o material sobe
- Esquecer de cobrar pela criação do desenho
Lembre-se: você não é máquina, nem precisa competir com produto de fábrica. Seu trabalho é artesanal, artístico e cheio de valor.
Dicas extras para vender bem sem sair no prejuízo
Mesmo cobrando o preço justo, dá pra melhorar a percepção de valor e facilitar a venda:
Crie valor através da comunicação:
- Conte o processo nas redes sociais
- Mostre o antes e depois
- Explique como calcula seus preços
Trabalhe por encomenda com prazo justo:
- Evite fazer estoque sem demanda
- Ofereça prazos realistas
- Tenha um portfólio para mostrar opções
Facilite o pagamento:
- Ofereça PIX, cartão e até parcelamento
- Deixe claro que é uma peça artesanal
- Faça posts explicando sua tabela de preços
Precificar bordado é também se valorizar
Quando você cobra certo pelo seu bordado, não é só sobre dinheiro. É sobre respeitar seu tempo, sua arte e sua saúde. Quem trabalha com bordado à mão investe tempo, estudo e energia emocional. Isso precisa ser reconhecido.
E mais: quando você se valoriza, ensina o público a valorizar também. É um ciclo. E toda vez que você recusa fazer “só uma lembrancinha baratinha”, você planta o respeito por todo o setor artesanal.